2008/01/02

Enquadramento Teórico

Animação comunitária

A animação comunitária integra um modelo de intervenção que visa o ser, o saber, saber fazer e o saber estar, para se aprender a viver em comunidade, assim motivando a participação activa das pessoas, envolvendo-as nas actividades. Para que as pessoas tenham melhores condições de vida e se sintam melhores com elas próprias, no seu dia a dia. A participação das pessoas é importante, numa determinada comunidade, porque cada indivíduo tem saberes e experiências que pode partilhar com os outros.
A vertente comunitária da animação tem por objectivo o alívio de tensões e conflitos, rumo a um estado de harmonia plena, que permite pensar em projectos comuns, resultantes das diferentes formas de ser, estar e agir, porque só é possível animar através da comunicação.
Este cariz da animação tem em vista o progresso, a mudança da realidade social e o desenvolvimento endógeno, global e integrado. Este desenvolvimento pretende consciencializar as pessoas das suas próprias capacidades, isto quer dizer que todas as pessoas são capazes de aprender e de agir de acordo com os seus diferentes níveis de compreensão.
A animação pretende dar resposta aos problemas da comunidade, tais como: conflitos, solidão, violência, racismo, xenofobia. A animação pretende reforçar os laços comunitários: “As comunidades precisam, reclamam uma intervenção que as estruture, as organize, as torne activas e empreendedoras, assumindo em mãos as tarefas do seu próprio desenvolvimento. Também os grupos necessitam de se reestruturar, de se organizar de forma a responder aos interesses e necessidades dos seus membros. É este o âmbito da animação comunitária. É esta a sua especificidade: a criação de grupos que correspondam aos desejos e necessidades dos cidadãos porque a organização dos cidadãos em redes e grupos é a base para a iniciativa, a mudança, a superação da crise urbana.
A animação comunitária trabalha no sentido de transformar o tempo desocupado das pessoas, que para muitos é contínuo, em tempo de socialização, de projecto partilhado, de realização pública (…) O associativismo assume hoje foros de imperativo cultural, uma verdadeira exigência dos tempos modernos. (…) Há um importante trabalho a fazer com todos os segregados do processo produtivo – jovens, idosos, migrantes, deficientes…, não no sentido assistencialista, antes de forma a descobrir novas formas de integração no trabalho. E sobretudo procurar solucionar os problemas colectivamente, solidariamente.”
[1]


Animação local

Se associarmos aos vários campos de acção da animação, a criatividade, que consegue dinamizar os territórios mais carenciados, surge-nos a animação como um elemento de desenvolvimento local de enormíssimas potencialidades. Estas potencialidades, em plena articulação com os recursos humanos e materiais adequados, podem levar à dinamização e desenvolvimento de zonas que se encontram em declínio.
Segundo a associação IN LOCO podemos referir como algumas potencialidades de animação local “projectos localizados e de pequena escala (empresários e empreendedores individuais e colectivos); programas e estruturas de educação, de formação e investigação aplicada e participada; organização e mobilização locais, capazes de levarem à emergência de um processo de desenvolvimento local largamente apoiado (empreendimento colectivo)
[2].
Neste contexto, a animação assenta na reprodução de pequenas actividades e projectos que tenham como objectivo, a criação de uma dinâmica de fundo no território, onde se envolvem o máximo de actores sociais possíveis, levando deste modo, à emergência de condições que favoreçam a iniciativa das comunidades, no seu processo de desenvolvimento local.
A IN LOCO menciona ainda, que “só é possível falar em desenvolvimento se a dinâmica gerada tiver criado, ou reforçado, diferentes projectos locais relativamente independentes uns dos outros, mas todos eles associados ao mesmo processo de animação social e cultural”
[3]


Animador local

Segundo a IN LOCO, “o animador quando incentiva alguém ou mobiliza um determinado grupo de indivíduos para desenvolver uma ideia, o seu papel não fica por aí. Inicia-se então outra vertente do seu trabalho, o acompanhamento de todo esse processo. Este acompanhamento é muito importante porque envolve, por um lado, uma atitude constante de incentivo e apoio, e por outro, uma especial habilidade”
[4] em realizar as iniciativas, como seja, contactar organismos de administração, como também realizar todas a burocracias adjacentes ao processo.
Uma importante função no trabalho do animador local é a mediação, apresentando-se como uma tarefa difícil, mas o animador acaba por conseguir desempenhá-la naturalmente dadas as suas características, sobretudo devido à facilidade que possui para falar com as diferentes organizações e pessoas, e também a sua neutralidade, ou seja, não estar conotado com interesses político-partidários ou outros. Deste modo, o animador consegue obter a confiança das partes que compõem a comunidade onde está inserido.




C.C.D. (Centros de Cultura e Desporto)

Os Centros de Cultura e Desporto foram criados no período político do Estado Novo (tal como as Casas do Povo). Constituíram-se e funcionaram no âmbito e sob tutela do INATEL – Instituto Nacional dos Tempos Livres dos Trabalhadores.
Estes clubes/centros são essencialmente associações com acção e actividade nos locais de trabalho e em pequenos núcleos populacionais. Quanto ao objecto social varia desde bandas filarmónicas a ranchos folclóricos e pequenos grupos desportivos.
Estas associações estão previstas nos estatutos do INATEL, de acordo com o Decreto-Lei nº 61/ 89, de 23 de Fevereiro, nomeadamente o artigo 61º.

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[1] LOPES, Marcelino de Sousa; Animação Sociocultural em Portugal; Intervenção – Associação para a Promoção e Divulgação Cultural; Março 2006, p. 376
[2] DIAS, Nelson; PALMA, Graça - Dar rosto à intervenção – Os animadores de desenvolvimento local; Edição Associação IN LOCO; 2001; pág. 41
[3] IDEM, pág. 49
[4] IDEM, pág. 27